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'Relatório-bomba' enviado ao Corinthians tem dívida de R$ 2,1 bilhões, SAF e até recuperação judicial como 'remédio amargo'

O relatório final produzido pela Ernst & Young, multinacional contratada pelo Corinthians para consultoria e planejamento estratégico, deve levar mais alguns dias para ser publicado.

Como apurou a ESPN nesta quarta-feira (8), o estudo detalhado produzido pela empresa foi apresentado nesta semana à diretoria alvinegra, mas ainda será validado em nova reunião com os cartolas nos próximos dias. Com isso, a chamada "semana da transparência" também passará para uma nova data.

O planejamento do Timão era de que o relatório da Ernst & Young fosse apresentado ao público em uma ação em conjunto com diretorias importantes do clube como a financeira e o marketing.

Segundo soube a reportagem, documento que chegou à mão do corpo diretivo alvinegro aponta um endividamento total de cerca de R$ 2,1 bilhões, sendo R$ 500 milhões a mais em relação ao projetado no último balanço financeiro publicado pela gestão Duílio Monteiro Alves.

*Nota atualizada: De acordo com apresentação do balanço financeiro de 2023 enviada a membros do Conselho Deliberativo, o Corinthians alcançou R$ 1 bilhão em faturamento, considerando as receitas brutas do clube e da Neo Química Arena.

Isso representa um recorde na história alvinegra.

Por outro lado, a dívida bruta também ficou em patamar elevado, de R$ 1,96 bilhão, sendo R$ 1,26 bilhão do clube e R$ 703 mi do estádio (financiamento com a Caixa Econômica Federal).

Na apresentação aos conselheiros, o Corinthians também mostra o endividamento com outro cálculo, o mesmo adotado pela gestão anterior. Nesses critérios, o saldo é um pouco menor: R$ 1,58 bilhão.

Entre os caminhos apresentados pela Ernst & Young ao Corinthians está o de uma recuperação judicial, que é uma previsão legal para empresas em situação de crise econômico-financeira. O documento da consultoria, inclusive, trata o quadro do clube como "insolvente".

Isso, segundo apurou a ESPN, foi apontado a dirigentes alvinegros como o "remédio amargo" possível diante da grave crise financeira.

Há ainda, entre outras sugestões apresentadas, a transformação do Corinthians em uma SAF (Sociedade Anônima do Futebol).

O modelo tradicional de organização no Brasil é a associação civil sem fins lucrativos, com as eleições de seus presidentes determinadas pelos próprios estatutos.

Quando o formato de empresa passa a ser adotado, isso habilita a possibilidade de haver um investidor para essa SAF, que passa a ser o proprietário (majoritário ou não) das ações. Na prática, o clube passa a ter um dono.

Além disso, a legislação aplicada à SAF ainda prevê alterações quanto à tributação, normas de governança e regras de adequação financeira, além de obrigações mais rígidas quanto ao pagamento de dívidas de natureza civil e trabalhista, que passam a ter um prazo que poderá chegar a dez anos para a quitação, dependendo de regras específicas.

Ainda segundo apurou a reportagem, o Corinthians indicou à Ernst & Young o desejo de que o caminho seguido fosse semelhante ao adotado pelo Flamengo na gestão Eduardo Bandeira de Mello, quando coube à multinacional britânica traçar o planejamento estratégico para recuperação financeira do clube.

Caso a decisão da diretoria alvinegra seja de não aderir à recuperação judicial, o projeto tende a caminhar para um formato semelhante ao traçado pelo Rubro-Negro há uma década: ganho de caixa no curto prazo e alongamento da dívida.

A ESPN soube ainda que o relatório final da Ernst & Young recomenda ao Corinthians a contratação de um CEO (Chief Executive Officer, em inglês), que na prática opera como um diretor-executivo.

"Fim da farra" gerou desconforto

Ainda segundo apurou a ESPN, a postura alvinegra no mercado de contratações em 2024 não teve "aval" da consultoria. Pelo contrário: foi ponto de desconforto entre a empresa e Rubens Gomes, o Rubão, antigo vice-presidente de futebol.

A Ernst & Young se posicionou contra o investimento superior a R$ 100 milhões em reforços feito pelo clube entre janeiro e fevereiro. Procurado pela reportagem por meio de sua assessoria, Rubão afirma que todas as reuniões de contratações foram gravadas e que o presidente Augusto Melo afirmava à EY que a prioridade eram os gastos em contratações.

Veja resposta da gestão de Duilio:

"Na matéria "Relatório-bomba enviado ao Corinthians tem dívida de R$ 2,1 bilhões, SAF e até recuperação judicial como remédio amargo", a gestão do ex-presidente Duílio Monteiro Alves esclarece que:

É sabido que a gestão atual mudou a forma de apresentar os dados. Em vez de apresentá-los como endividamento, forma consagrada há anos no clube (isto é, a dívida bruta menos as receitas previstas, cálculo que dá melhor medida da situação do clube), a gestão atual prefere simplesmente apresentar a dívida total, sem evidenciar a capacidade que o clube tem de lidar com ela. Tudo para apoiar sua narrativa política.

Logo, não faz sentido dizer que o documento aponta R$ 500 milhões a mais em relação ao projetado no balanço financeiro que se refere ao último ano da gestão Duilio Monteiro Alves, porque se trata apenas de manobra contábil, misturando duas formas de apresentar um déficit como se fossem a mesma".

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