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Wendell Lira fala sobre depressão e revela que pensou em se matar dias antes de ganhar Prêmio Puskás

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Wendell Lira revela depressão antes de ganhar o Puskás: 'Se estou vivo, é pelas pessoas que votaram em mim' (4:57)

O vencedor do Prêmio Puskás de 2016 deu um forte relato durante o 'MunDu Meneses' nesta segunda-feira (1) (4:57)

Wendell Lira foi o convidado desta semana do Programa MunDu Meneses e deu fortes declarações sobre depressão. Vencedor do Prêmio Puskás pelo gol mais bonito de 2015, ele revelou que pensou em se matar dias antes de cerimônia na Fifa.

Wendell contou que a história aconteceu literalmente dias antes de vencer o Prêmio. Ele havia feito o golaço indicado para o Puskás em março de 2015 quando atuava pelo Goianésia no Campeonato Goiano. Depois ele ainda passou alguns meses defendendo o Tombense, mas acabou ficando desempregado.

Em novembro daquele ano, ele foi indicado entre os 10 finalistas do Prêmio Puskás. A Internet brasileira, então, comprou a briga de Wendell. Votou para colocá-lo no top-3 e depois para dar o troféu a ele. O anúncio aconteceu em cerimônia no começo de janeiro de 2016.

Enquanto isso, porém, Wendell batalhava contra a depressão.

Aviso: a história é forte e pode trazer servir de gatilho. O depoimento está na íntegra.

"Eu venho de uma situação difícil, era muito pobre. De repente comecei a ganhar muito dinheiro, comprei carro, apartamento... E teve um momento na minha vida que foi muito difícil quando saí do Goiás e fui morar com meu sogro. Olha que loucura: morei 8 meses de favor com meu sogro, que morava de favor com o sogro dele. Em uma casa de dois quartas, moravam umas 15 pessoas, dormia todo mundo no chão.

Me trataram bem demais, me acolheram. Mas naquele momento eu não me enxergava mais como pessoa. Eu olhava para mim e falava: ‘cara, não consigo ajudar, tem 6 meses que não tenho um real no bolso, tudo que eu toco dá errado, tudo que eu faço dá errado’. Eu via a vida de todo mundo prosperar, mas aonde eu tocava, eu atrapalhava. Eu achava que não fazia mais parte daquele plano ali.

Aí um cara me ligou para jogar terrão em Goianésia, no amador. Eu já tinha feito gol na Copa do Brasil, no Brasileiro e estava recebendo convite para jogar por 150 reais. E eu não tinha um real no bolso. Falei que topava. Mas quando falei, minha mãe buzinou na porta de casa. E ela falou que Deus tinha tocado no coração do meu irmão e ele tinha me dado 50 reais. E aquilo ali acabou comigo. Porque eu ajudei minha mãe, dei apartamento, moto... Sempre tentei cuidar da minha família. E naquele momento me senti muito mal. Não é que meu ego foi grande, mas era um vazio tão grande, um sentimento de tristeza tão grande...

Eu tinha um Peugeot com 10 parcelas atrasadas, o banco estava ligando para tomar o carro. Pensei que ia pegar aqueles 50 reais, botar gasolina, dar 100 reais para minha esposa e me jogar debaixo de uma carreta. Eu queria acabar com isso porque minha família não merecia esse peso todo que eu estava trazendo. De madrugada eu beijei minha esposa e ela percebeu, falou que eu estava diferente. Aí eu fiz a viagem a 200km por hora para Goiânia, chorando o tempo inteiro. Mas não consegui entrar debaixo de uma carreta. Chorava, chorava, chorava.

Quando eu estava chegando em Goiânia, minha mãe me ligou e falou que minha tia sonhou que eu estava entrando embaixo de uma carreta. Eu comecei a chorar. Minha mãe foi atrás de mim chorando e falou que Deus queria falar comigo. Deus me falou: ‘te deixei passar pelo Vale, pelo fundo do poço, você foi muito humilhado, as pessoas zombaram muito de você. Mas agora eu vou te pegar pelas pontas dos dedos, vou te levantar e te colocar entre os grandes dessa terra para você engrandecer o nome de Deus’.

E daquele dia para frente, minha vida transformou. Hoje minha família vem me visitar aqui em São Paulo. Eu poderia ter perdido o bem mais valioso da minha vida, a minha esposa, o meu filho e as pessoas que me amam. Se hoje eu estou em pé, se estou vivo, é por causa das pessoas que não me conheciam e votaram, fizeram a diferença. Minha família inteira é muito grata a todos que me ajudaram"

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida), serviço voluntário gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.

O CVV oferece atendimento pelo site www.cvv.org.br, pelo telefone 188 (24 horas e sem custo de ligação), por chat, e-mail e também pessoalmente.

Também busque apoio nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) de sua cidade. São serviços gratuitos de atendimento às necessidades de saúde mental de qualquer pessoa. Mais informações no Disque Saúde, pelo telefone 136.